Por Vitor Franceschini
Foram 20 anos de
silêncio, quase 30 anos engasgados por não terem lançado um debut. É mais ou
menos assim que se resume a história dos paulistas da Overthrash, banda oriunda
de Bauru e que conquistou o underground do estado na década de 90. No ano
passado, “Until Death” veio à luz e fez jus ao nome e dedicação do grupo após
seu retorno. Agora com P.A.D. (bateria/vocal), Edmir e Vitor Caricati
(guitarras) e Jé Crust (baixo), a banda recupera o tempo perdido e divulga o
tão esperado trabalho.
Primeiramente
como e quando surgiu a ideia de retornar com a banda? Houve alguma tentativa de
voltar com a primeira formação completa?
Vitor
Caricati: A ideia de gravar o material antigo com boa
qualidade foi o fator primordial para a “retomada”, no entanto a coisa toda
começou a tomar forma no final de 2014 quando surgiu a ideia de fazer o
crowdfunding, meio que seguindo o exemplo de muitos artistas independentes
nacionais como Dorsal Atântica. Houve tentativas de trazer os integrantes de
outras formações para pelo menos fazerem participações no disco, mas se
tornaram inviáveis por conta de não tocarem mais ou morarem longe.
E
como foi que surgiu a oportunidade de ter no retorno da banda os novos
integrantes você e Jé Crust (baixo, ex-Trator BR)? E como é e o que vocês
trouxeram para a essência do Overthrash?
Vitor:
Eu conhecia o pessoal da banda há muito tempo e sempre fui fã. Em certas
oportunidades disse ao P.A.D. que, se precisassem eventualmente de um
guitarrista, eu estaria à total disposição. Já o senhor Jé sempre foi bastante
amigo meu, assim foi o primeiro cara que me veio na cabeça quando a coisa toda
começou a rolar e ele tinha todos os predicados para desenvolver a função.
Desde o começo a ideia era manter a essência do som da banda sem maiores
invencionices, o que nós (eu e o Jé) estávamos em total acordo. Apesar das
diferenças de idade, todo mundo pira nas bandas clássicas da era de ouro do Thrash
e há uma preferência muito grande pela sonoridade ‘old school’ dentre nós.
Assim sendo, foi fácil manter a essência.
Desde
o retorno vocês planejavam lançar enfim o primeiro álbum ou só pretendiam fazer
shows?
Vitor:
Na verdade, a única ideia era lançar o disco. Não havia nenhum plano específico
para ‘gigs’ (risos). Mas na primeira vez que eu toquei com a banda, em 2012, a
ideia era fazer shows bem esporádicos.
Vocês
optaram pelo sistema de crowndfunding (financiamento coletivo na internet) para
a produção e lançamento do debut. Por que escolheram trabalhar dessa maneira e
como foi o resultado?
Vitor:
Escolhemos
essa maneira por sermos um bando de pobre sem um puto no bolso (risos). Mas a
ideia do crowdfunding é muito democrática e acho que essa é uma das melhores
maneiras das bandas independentes se conectarem com seu público para atingirem
um resultado. E o resultado foi excelente. Claro que é um sistema que funciona
se você tem uma boa propaganda e um nome relativamente conhecido para que seja,
de fato, viável. O único empecilho real foi pelo fato de se tratar de algo novo
e muita gente sequer fazia ideia de como que o negócio funcionava. Mas nada que
um pouco de didática e boa vontade não tenham resolvido (risos). Mas deixo aqui
mais uma vez nossos eternos agradecimentos aos apoiadores que confiaram no
trampo e aturaram os atrasos.
Enfim,
como foi ter finalmente, após quase trinta anos de estrada, o primeiro registro
oficial lançado?
Vitor:
Acho que nada é mais gratificante do que ter a sua obra concretizada e
materializada de fato. Hoje em dia o material físico pode não ter o mesmo
significado que tinha há 30 anos. No entanto a essência é a mesma. A música
prevalece.
E
por que escolheram relançar quatro músicas que compunham as antigas demos e qual
foi o processo de escolha das mesmas?
Vitor:
Quem veio com essa seleção foi o P.A.D. e o Edmir e acredito que, como são os
fundadores da parada, ninguém melhor que eles para revisitar o passado e
peneirar o que seria mais bem aproveitado.
É
interessante notar que a banda, mesmo dando uma nova roupagem às antigas
composições, conseguiram manter a essência das mesmas nas novas músicas. Essas
músicas estavam prontas há algum tempo ou foram compostas recentemente para
“Until Death”?
Vitor:
O riff principal de Chemtrails surgiu
há uns 6 anos atrás, quando eu ainda tocava com a banda D.O.S aqui de Bauru,
mas nunca consegui usá-lo. Certa vez, um pouco antes de iniciar a campanha do
crowdfunding, o P.A.D comentou que tinha uma letra ‘noiada’ nessas fitas de ‘rastros
químicos’. Ainda nesse período estávamos eu e ele tocando uns Ramones com uns
amigos num estúdio e mostrei pra ele o riff e ele pirou! Já What is This era uma ideia de fazer uma
espécie de Bat Banger II e surgiu
quando a campanha já havia iniciado. Ela veio com uma inclinação mais voltada
ao Thrash germânico que também sempre foi uma influência marcante para os
‘véios’.
“Until
Death”, aliás, é um disco que mostra que o Overthrash não parou no tempo, porém
seu Thrash Metal não soa artificial e/ou mecânico como muito vemos no Metal
atual. Essa foi a fórmula da banda ou isso fluiu de forma natural?
Vitor:
Foi natural. Queríamos que o disco soasse bem, mas que fosse honesto e
condizente com o som da banda. Não faria sentido gravar o disco se valendo do
aparato que os caras tinham nos anos 80. Por isso queríamos um disco sujo e
pesado, mas que fosse bem produzido. Seria meio picareta retomar a banda após
tanto tempo e inventar moda trazendo elementos que nunca fizeram parte da
musicalidade da banda. Se fosse algo fruto de uma progressão natural de uma
banda que continuou trabalhando por todo esse período – como o Kreator e
Sepultura fizeram dos 90 em diante - seria legal testar novas coisas. Mas não
foi o caso da Overthrash. Portanto o que se tem aqui é Thrash Metal cascudo.
Vocês
mesmo produziram o trabalho que mostra uma sonoridade mais natural que o
habitual, porém contemporânea aos dias de hoje. Por que resolveram produzir
vocês mesmos o disco? O resultado final foi o que esperavam?
Vitor:
Resolvemos produzir, pois não tínhamos verba para contratar um produtor e nem
um psicólogo para nos aguentar (risos). Mas na verdade, eu e o P.A.D. já
tínhamos um norte bem direcionado para o disco, tínhamos praticamente os mesmos
ideais para a concepção da coisa toda.
A
capa de “Until Death” é outro elemento que chama atenção por também soar
atemporal. Fale-nos do processo de produção e escolha da mesma. Qual mensagem
há por traz dela?
Vitor:
A capa surgiu aos 45 do segundo tempo e foi um presente de nosso amigo Sandro
Nunes, um artista incrível e renomado aqui da nossa cidade que já havia feito
artworks para outras bandas daqui como Trator BR e Infects Humanity. Apenas
jogamos o conceito do disco na mão dele e deixamos ele trampar e saiu aquela
lindeza toda macabra. Cada um tem uma interpretação do tema, vai do chá que
você consumir (risos). Eu particularmente interpreto aquilo como uma figura de
perseverança e resiliência, de algo que perdura mesmo após o fim da existência.
Falando
nisso, o que a banda procura abordar em suas letras? Muita coisa mudou em
relação às antigas composições neste sentido?
Vitor:
Não mudou muita coisa não. A verdade é que liricamente a Overthrash sempre teve
liberdade para falar do que quiser. Pode ser uma mera agressão verbal aos
‘posers’ como era bastante comum nos anos 80 (Bat Banger e What Is This
abordam esse tema), como pode também abordar algo mais aprofundado como em Alternative World, que fala de alguém
que chegou ao outro lado esperando ver Deus, mas não encontrou nada.
E
como está a repercussão de “Until Death” até então, tanto por parte da mídia,
quanto por parte do público? Houve alguma resposta do exterior em relação ao
debut?
Vitor:
A repercussão tem sido muito legal. A galera tem curtido muito. Só reclamam que
o play é curto (risos). Mas, estamos enviando o disco aos poucos para os meios
de comunicação voltados ao Rock/Hardcore/Metal. Mas já tivemos ótimas respostas
de webzines e rádios online. Ainda estamos negociando uma plataforma online
para divulgar o disco para o exterior.
Por
fim, o que planejam para 2017?
Vitor:
Não há muitos planos para shows. O negócio é continuar divulgando o disco e ver
o que acontece. Claro que se pintarem uns fests legais e oportunidades bacanas,
estaremos dispostos. Mas estamos indo com bastante calma.
Muito
obrigado, este espaço é de vocês para as considerações finais!
Vitor:
Thrash Metal é com ‘TH’.
Valeu mais uma vez o apoio, xará!!!
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