terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Overthrash: "Thrash Metal é com TH"



Por Vitor Franceschini

Foram 20 anos de silêncio, quase 30 anos engasgados por não terem lançado um debut. É mais ou menos assim que se resume a história dos paulistas da Overthrash, banda oriunda de Bauru e que conquistou o underground do estado na década de 90. No ano passado, “Until Death” veio à luz e fez jus ao nome e dedicação do grupo após seu retorno. Agora com P.A.D. (bateria/vocal), Edmir e Vitor Caricati (guitarras) e Jé Crust (baixo), a banda recupera o tempo perdido e divulga o tão esperado trabalho.

Primeiramente como e quando surgiu a ideia de retornar com a banda? Houve alguma tentativa de voltar com a primeira formação completa?
Vitor Caricati: A ideia de gravar o material antigo com boa qualidade foi o fator primordial para a “retomada”, no entanto a coisa toda começou a tomar forma no final de 2014 quando surgiu a ideia de fazer o crowdfunding, meio que seguindo o exemplo de muitos artistas independentes nacionais como Dorsal Atântica. Houve tentativas de trazer os integrantes de outras formações para pelo menos fazerem participações no disco, mas se tornaram inviáveis por conta de não tocarem mais ou morarem longe.

E como foi que surgiu a oportunidade de ter no retorno da banda os novos integrantes você e Jé Crust (baixo, ex-Trator BR)? E como é e o que vocês trouxeram para a essência do Overthrash?
Vitor: Eu conhecia o pessoal da banda há muito tempo e sempre fui fã. Em certas oportunidades disse ao P.A.D. que, se precisassem eventualmente de um guitarrista, eu estaria à total disposição. Já o senhor Jé sempre foi bastante amigo meu, assim foi o primeiro cara que me veio na cabeça quando a coisa toda começou a rolar e ele tinha todos os predicados para desenvolver a função. Desde o começo a ideia era manter a essência do som da banda sem maiores invencionices, o que nós (eu e o Jé) estávamos em total acordo. Apesar das diferenças de idade, todo mundo pira nas bandas clássicas da era de ouro do Thrash e há uma preferência muito grande pela sonoridade ‘old school’ dentre nós. Assim sendo, foi fácil manter a essência.

Desde o retorno vocês planejavam lançar enfim o primeiro álbum ou só pretendiam fazer shows?
Vitor: Na verdade, a única ideia era lançar o disco. Não havia nenhum plano específico para ‘gigs’ (risos). Mas na primeira vez que eu toquei com a banda, em 2012, a ideia era fazer shows bem esporádicos.

Vocês optaram pelo sistema de crowndfunding (financiamento coletivo na internet) para a produção e lançamento do debut. Por que escolheram trabalhar dessa maneira e como foi o resultado?
Vitor: Escolhemos essa maneira por sermos um bando de pobre sem um puto no bolso (risos). Mas a ideia do crowdfunding é muito democrática e acho que essa é uma das melhores maneiras das bandas independentes se conectarem com seu público para atingirem um resultado. E o resultado foi excelente. Claro que é um sistema que funciona se você tem uma boa propaganda e um nome relativamente conhecido para que seja, de fato, viável. O único empecilho real foi pelo fato de se tratar de algo novo e muita gente sequer fazia ideia de como que o negócio funcionava. Mas nada que um pouco de didática e boa vontade não tenham resolvido (risos). Mas deixo aqui mais uma vez nossos eternos agradecimentos aos apoiadores que confiaram no trampo e aturaram os atrasos.



Enfim, como foi ter finalmente, após quase trinta anos de estrada, o primeiro registro oficial lançado?
Vitor: Acho que nada é mais gratificante do que ter a sua obra concretizada e materializada de fato. Hoje em dia o material físico pode não ter o mesmo significado que tinha há 30 anos. No entanto a essência é a mesma. A música prevalece.

E por que escolheram relançar quatro músicas que compunham as antigas demos e qual foi o processo de escolha das mesmas?
Vitor: Quem veio com essa seleção foi o P.A.D. e o Edmir e acredito que, como são os fundadores da parada, ninguém melhor que eles para revisitar o passado e peneirar o que seria mais bem aproveitado.

É interessante notar que a banda, mesmo dando uma nova roupagem às antigas composições, conseguiram manter a essência das mesmas nas novas músicas. Essas músicas estavam prontas há algum tempo ou foram compostas recentemente para “Until Death”?
Vitor: O riff principal de Chemtrails surgiu há uns 6 anos atrás, quando eu ainda tocava com a banda D.O.S aqui de Bauru, mas nunca consegui usá-lo. Certa vez, um pouco antes de iniciar a campanha do crowdfunding, o P.A.D comentou que tinha uma letra ‘noiada’ nessas fitas de ‘rastros químicos’. Ainda nesse período estávamos eu e ele tocando uns Ramones com uns amigos num estúdio e mostrei pra ele o riff e ele pirou! Já What is This era uma ideia de fazer uma espécie de Bat Banger II e surgiu quando a campanha já havia iniciado. Ela veio com uma inclinação mais voltada ao Thrash germânico que também sempre foi uma influência marcante para os ‘véios’.

“Until Death”, aliás, é um disco que mostra que o Overthrash não parou no tempo, porém seu Thrash Metal não soa artificial e/ou mecânico como muito vemos no Metal atual. Essa foi a fórmula da banda ou isso fluiu de forma natural?
Vitor: Foi natural. Queríamos que o disco soasse bem, mas que fosse honesto e condizente com o som da banda. Não faria sentido gravar o disco se valendo do aparato que os caras tinham nos anos 80. Por isso queríamos um disco sujo e pesado, mas que fosse bem produzido. Seria meio picareta retomar a banda após tanto tempo e inventar moda trazendo elementos que nunca fizeram parte da musicalidade da banda. Se fosse algo fruto de uma progressão natural de uma banda que continuou trabalhando por todo esse período – como o Kreator e Sepultura fizeram dos 90 em diante - seria legal testar novas coisas. Mas não foi o caso da Overthrash. Portanto o que se tem aqui é Thrash Metal cascudo.

Vocês mesmo produziram o trabalho que mostra uma sonoridade mais natural que o habitual, porém contemporânea aos dias de hoje. Por que resolveram produzir vocês mesmos o disco? O resultado final foi o que esperavam?
Vitor: Resolvemos produzir, pois não tínhamos verba para contratar um produtor e nem um psicólogo para nos aguentar (risos). Mas na verdade, eu e o P.A.D. já tínhamos um norte bem direcionado para o disco, tínhamos praticamente os mesmos ideais para a concepção da coisa toda.

A capa de “Until Death” é outro elemento que chama atenção por também soar atemporal. Fale-nos do processo de produção e escolha da mesma. Qual mensagem há por traz dela?
Vitor: A capa surgiu aos 45 do segundo tempo e foi um presente de nosso amigo Sandro Nunes, um artista incrível e renomado aqui da nossa cidade que já havia feito artworks para outras bandas daqui como Trator BR e Infects Humanity. Apenas jogamos o conceito do disco na mão dele e deixamos ele trampar e saiu aquela lindeza toda macabra. Cada um tem uma interpretação do tema, vai do chá que você consumir (risos). Eu particularmente interpreto aquilo como uma figura de perseverança e resiliência, de algo que perdura mesmo após o fim da existência.

Falando nisso, o que a banda procura abordar em suas letras? Muita coisa mudou em relação às antigas composições neste sentido?
Vitor: Não mudou muita coisa não. A verdade é que liricamente a Overthrash sempre teve liberdade para falar do que quiser. Pode ser uma mera agressão verbal aos ‘posers’ como era bastante comum nos anos 80 (Bat Banger e What Is This abordam esse tema), como pode também abordar algo mais aprofundado como em Alternative World, que fala de alguém que chegou ao outro lado esperando ver Deus, mas não encontrou nada.

E como está a repercussão de “Until Death” até então, tanto por parte da mídia, quanto por parte do público? Houve alguma resposta do exterior em relação ao debut?
Vitor: A repercussão tem sido muito legal. A galera tem curtido muito. Só reclamam que o play é curto (risos). Mas, estamos enviando o disco aos poucos para os meios de comunicação voltados ao Rock/Hardcore/Metal. Mas já tivemos ótimas respostas de webzines e rádios online. Ainda estamos negociando uma plataforma online para divulgar o disco para o exterior.

Por fim, o que planejam para 2017?
Vitor: Não há muitos planos para shows. O negócio é continuar divulgando o disco e ver o que acontece. Claro que se pintarem uns fests legais e oportunidades bacanas, estaremos dispostos. Mas estamos indo com bastante calma.

Muito obrigado, este espaço é de vocês para as considerações finais!
Vitor: Thrash Metal é com ‘TH’.


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